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'Trafilícia' atuante em Niterói faturava mais de R$ 1 milhão por mês

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|  Foto: Foto : Marcelo Tavares
Um dos locais de atuação dos criminosos é a comunidade do Jacaré, na Região Oceânica de Niterói. Foto: Marcelo Tavares

Mais de 20 mil clientes, faturamento bruto mensal na casa de R$ 1 milhão e moradores sob a obrigação do consumo de serviços irregulares. Esse é o modus operandi de uma empresa ligada a traficantes que cobra e obriga uso de telefonia e TV a cabo irregulares, em comunidades no Rio de Janeiro.

Um dos locais de atuação dos criminosos é a comunidade do Jacaré, na Região Oceânica de Niterói. Além da localidade niteroiense, o grupo criminoso atua em favelas de Cabo Frio, na Região dos Lagos, e São João de Meriti, na Baixada Fluminense.

Segundo a Polícia Civil, após meses de investigação, agentes da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) conseguiram detectar uma empresa localizada na Ilha do Governador, que funcionava como base da quadrilha.

Uma operação, denominada como “Tráfico.com”, foi instaurada pela especializada, na manhã desta quinta-feira (17), com o objetivo de cumprir nove mandados de prisão em diversas regiões do Estado.

Segundo a polícia, a operação desta quinta busca coletar provas que levem a identificação de todos os envolvidos na organização criminosa, assim como investigar a atuação dessa quadrilha em outras comunidades controladas pelo tráfico ou milícia.

De acordo com as investigações, a empresa prestadora de serviço de distribuição de sinal de internet, telefonia e TV a cabo paga valores semanais às lideranças do tráfico das comunidades, para que outras firmas - que prestam o mesmo serviço - sejam impedidas de atuar nesses locais, criando-se, assim, um monopólio que favorece o provedor associado ao crime organizado.

Ainda segundo a polícia, diversos relatos feitos por funcionários de empresas como Oi, Vivo e Claro, revelam que os traficantes, aliados da empresa, expulsam os técnicos que tentam instalar redes que não sejam do provedor associado ao tráfico, fazendo ameaças com emprego de armas de fogo.

Além disso, diz a denúncia, como forma de demonstração de força, também vandalizam as redes instaladas, cortando cabos e ateando fogo em equipamentos, além de impedir com ameaças o reparo dessas redes pelos funcionários das concessionárias.

Os policiais da especializada detectaram a presença dessa quadrilha nas seguintes comunidades: Morro dos Macacos, em Vila Isabel, no Rio de Janeiro; Manoel Correa e Jardim Nautilus, em Cabo Frio, na Região dos Lagos; Vila Tiradentes, em São João de Meriti; Jacaré, em Piratininga, na Região Oceânica de Niterói e Dendê, na Ilha do Governador.

Jacaré foi palco de execução de um PM em setembro

Uma das áreas de atuação da quadrilha, a comunidade do Jacaré, na Região Oceânica de Niterói, foi palco da execução do cabo da Polícia Militar Douglas Cruz, de 32 anos, em setembro deste ano. Ele teria sido reconhecido por traficantes em um evento realizado no interior da localidade, controlada pela facção criminosa Comando Vermelho (CV), e foi executado pelos criminosos locais, no dia 8 daquele mês.

Poucas horas após a morte do policial militar, agentes do Batalhão de Ações com Cães (BAC) e da Divisão de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo (DHNISG) prenderam um homem em flagrante acusado de ter envolvimento na morte do cabo, lotado no Batalhão de Niterói (12° BPM).

Ele foi encontrado em uma área de mata de Charitas, na Zona Sul de Niterói, após fugir de uma abordagem policial na Avenida Silvio Picanço.

Chefe do tráfico do Jacaré controla às atividades de dentro da cadeia

Segundo as investigações da Delegacia de Itaipu (81ª DP), responsável pela área, o chefe do tráfico da comunidade do Jacaré é um traficante conhecido como Jorginho que, mesmo preso, controla as práticas criminosas daquela favela, controlada pela facção criminosa Comando Vermelho (CV).

De acordo com o delegado Fábio Barucke, titular da distrital, a prática de tráfico-milícia - atuante em cobranças ilegais por serviços considerados essenciais - tem crescido na Região Oceânica de Niterói. Uma prova disso foi a recente ação que desmanchou uma quadrilha de cobrança de serviço de internet no bairro Engenho do Mato.

“Temos inquérito voltado para a comunidade do Jacaré com essa temática e com a apuração da DDSD fica ainda melhor, pois trata-se de uma delegacia com uma perícia especializada para esse assunto”, disse o delegado.

Segundo a polícia, além da venda de drogas, o tráfico de algumas comunidades da Região Oceânica de Niterói está se utilizando de táticas conhecidas de um outro grupo criminoso: a milícia. Os investigadores apontam que existem informações de que o tráfico estaria cobrando por serviços clandestinos como o ‘gatonet’ e gás de cozinha.

“É difícil estipular uma renda por comunidades, mas acreditamos que esses locais, juntos, arrecadam mais de R$ 100 mil mensais, o equivalente a mais de R$ 1,2 milhão por ano”, disse o delegado.

Pelas investigações, as comunidades com maior lucratividade criminal da Região Oceânica são: Caniçal, no Cafubá; Ciclovia, em Piratininga, e Favela da 42, no Engenho do Mato.

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